Saturday, April 30, 2011

Semana 08 -Risco Ambiental em Instituições Financeiras


Resenha de Tosini, 2007

O livro analisa como o risco ambiental passou a ser mais um risco a ser gerenciado pelas instituições financeiras e retrata como os bancos brasileiros têm incorporado o risco ambiental em seus modelos de gerenciamento de riscos. O trabalho foi motivado pelo fato de que o risco ambiental passou a ser mais um risco financeiro após a adoção do Princípio do Poluidor Pagador, além da grande importância do setor financeiro ao desenvolvimento econômico.

Baseando-se em extensa revisão bibliográfica, a autora conclui que o risco ambiental tem impacto sobre os principais riscos enfrentados pelos bancos e que as questões ambientais também interferem no risco de reputação da instituição. A autora observa que o tema é muito novo e amplo, e que as instituições bancárias brasileiras ainda têm um baixo nível de preocupação com os riscos ambientais.

Inicialmente é feito um histórico do crescimento da importância das questões ambientais para a sociedade nas últimas décadas, evidenciando que a gradativa adoção do Princípio do Poluidor Pagador pela legislação da maioria dos países fez com que as instituições bancárias também possam ser responsabilizadas por danos ambientais decorrentes de atividades econômicas por elas financiadas.

Os riscos financeiros para os bancos são classificados em quatro grandes grupos - de mercado, legal, de crédito e operacional - enquanto os riscos ambientais aos quais os bancos estão expostos são classificados em três grupos - direto, indireto e de reputação. A autora descreve como os três tipos de risco ambiental impactam nos quatro grupos de risco enfrentados pelos bancos.


  1. Risco de mercado: a autora mostra como o modelo CAPM, amplamente usado pelas instituições financeiras, pode ser adaptado para incorporar a quantificação dos riscos ambientais. São mostrados estudos empíricos que verificam quantitativamente que os papéis listados em índices de sustentabilidade existentes no mercado apresentam desempenho superior aos demais. Nota-se que essas conclusões condizem com o bom desempenho da rentabilidade do ISE da Bovespa. Existe forte correlação entre o valor de mercado da empresas e seu desempenho ambiental, sugerindo que a responsabilidade ambiental agrega valor.

  1. Risco legal: é apresentada uma classificação em três modalidades: de legislação, tributário e de contrato. São exemplificados casos de endurecimento da legislação ambiental, além de casos concretos de julgamento pelo poder judiciário demonstrando haver o entendimento na justiça brasileira de que a legislação vigente permite responsabilizar os agentes financiadores de atividades causadoras de danos ambientais. Também é ilustrada a possibilidade de haver ações civis públicas propostas pelo Ministério Público ou por inúmeras ONGs contra a instituição bancária.

  1. Risco de crédito: o maior risco é o indireto, que pode ser resumido à possibilidade de o tomador de crédito banco tornar-se incapaz de cumprir suas obrigações contratuais junto ao banco. Essa incapacidade de pagamento por parte da empresa pode ser provocada pela necessidade de reparação de danos ou passivos ambientais e problemas de imagem pública. Esses riscos tornam necessária a inclusão da avaliação dos riscos ambientais nas operações de crédito.

  1. Risco operacional: é ilustrado pela autora o risco de reputação, decorrente da maneira como a crescente influência da ideologia ambientalista na opinião pública gera riscos para os bancos. O “elevado nível de conscientização da sociedade” fez surgir organizações que exercem fortes pressões ao setor bancário por meio de grandes campanhas midiáticas com objetivo de boicotar bancos financiadores de projetos aos quais elas fazem oposição. Apesar de ser enquadrado como risco operacional, o risco de reputação permeia todas as áreas dos bancos, gerando a necessidade de se considerar as questões ambientais em todas as atividades bancárias.
Um ponto positivo do trabalho de Tosini é que sua análise é isenta e dasapaixonada, focando quase exclusivamente em fatos, dados e aspectos técnicos. Como uma profissional de cargo técnico do governo e presumidamente não sendo parte diretamente interessada, a autora teve aptidão para tratar o tema com imparcialidade. A publicação se destaca por ser pioneira em analisar como o risco ambiental é tratado no setor financeiro brasileiro. Percebe-se também que o documento sobre Belo Monte analisado no início do curso buscou utilizar vários conceitos trazidos pelo trabalho de Tosini, provavelmente na tentativa de obter maior credibilidade junto à opinião pública.

Por: Fábio de Azevedo Petra Bittencourt
Em: 30.04.2011

4 comments:

  1. Ótima resenha, Fábio, parabéns!
    Meu entendimento é que o livro sistematiza de uma forma bastante simples as abordagens que até então foram feitas sobre o fator 'risco ambiental' nas operações dos agentes financeiros. Aqui no Brasil o setor financeiro opera de uma forma bastante livre, num mercado desregulamentado, o que o torna vulnerável frente às mudanças na legislação e às jurisprudências que vão se formando. Então, é mais fácil acreditar que, sob ameaças de perdas finaceiras, os bancos dificultem o acesso a crédito por parte de empreendimentos de alto risco ambiental.
    Esperar para ver...
    O livro da Tosini, embora trate de um assunto para muita gente indigesto (finanças) é de fácil leitura para leigos, como eu. Parabéns para ela.

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  2. Bem lembrado, Fabio, que iremos comparar com o estudo sobre risco financeiro de Belo Monte. Mas coloque algumas perguntas para a discussão, e não se esqueça de colocar o titulo do livro no seu texto, pois este deve aparecer na resenha.

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  3. Prezados Colegas,

    Entendo que o risco sobre a reputação dos bancos é o ponto crucial do estudo, uma vez que se trata de assunto pouco discutido, elevando a proteção ambiental além das fronteiras das esferas legais ou dos órgãos públicos, conclamando a população a consumir produtos apenas de empresas que tem o compromisso ambiental como uma de suas plataformas de atuação no mercado, fazendo-nos lembrar que é a sociedade de consumo que movimenta o mercado econômico e consequentemente a degradação ambiental e que a parcela de contribuição da população é essencial para a redução dos impactos negativos ao ambiente.

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  4. Achei muito interessante quando a autora aborda o risco de reputação das instituições financeiras, apesar de entender que merecia um capítulo a parte, de tão rico que é o tema.
    Mas, como o Marcio falou, o livro é fácil leitura para leigos, acredito que por ter diversos exemplos facilite a leitura.
    Outro ponto interessante foi a comparação de casos internacionais com o Brasil, pois permite entender melhor como o assunto está sendo tratado no mundo.

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