Sunday, May 8, 2011

Semana 9 - GRA - Herculano (2002); Navarro (2005); Beck (2008)

Esta resenha aborda os textos de Navarro, Selene Herculano e Ulrich Beck que tratam, em linhas gerais, da sociedade de risco e da percepção ao risco.
O artigo de Herculano intitulado “Riscos e desigualdade social: a temática da Justiça Ambiental e sua construção no Brasil” discute os conceitos de Justiça Ambiental, desigualdades sociais e classes sociais pela perspectiva da qualidade de vida e das condições sócio-ambientais.
A autora conceitua Justiça Ambiental como a busca do tratamento justo e do envolvimento significativo de todas as pessoas, independentemente de sua raça, cor, origem ou renda no que diz respeito à elaboração, desenvolvimento, implementação e reforço de políticas, leis e regulações ambientais.
O artigo traz então um histórico dos casos emblemáticos norte-americanos que culminaram no surgimento do conceito de Justiça Ambiental, posteriormente apresenta como a questão está sendo entendida no Brasil.
No Brasil, esse tema ainda é incipiente e de difícil compreensão, sendo que, ironicamente, é o país das grandes injustiças que encobrem e naturalizam a exposição desigual à poluição e o ônus desigual dos custos do desenvolvimento.
Com relação às políticas ambientais urbanas brasileiras elas trazem soluções paliativas, resumindo-se a intervenções de cunho ambiental reparador.
No Brasil o termo Justiça Ambiental, ou Injustiça Ambiental vai além da problemática de localização de depósitos de rejeitos, engloba também aspectos como carência de saneamento ambiental no meio urbano e a degradação das terras usadas para acolher os assentamentos de reforma agrária, no meio rural.
Um ponto interessante é que as iniciativas que clamam por Justiça Ambiental têm partido de movimentos ambientalistas formados por uma classe média de alta escolaridade e mais informada ao invés de movimentos de base e/ou coalizões de cidadãos pobres afetados pela questão.
Em 2001 foi organizado o Colóquio Internacional sobre Justiça Ambiental, Trabalho e Cidadania - CIJATC, realizado na Universidade Federal Fluminense, para discutir enfoques teóricos e implicações políticas da proposta de Justiça Ambiental, além de fazer o histórico e avaliação de campanhas e ações de cidadania, dos casos de injustiça ambiental no Brasil e na América Latina, refletir sobre a experiência dos sindicatos e propor a construção de uma agenda. Nessa ocasião foi criada a Rede Brasileira de Justiça Ambiental – RBJA.
Na segunda parte do texto a autora trata das desigualdades sociais, exclusão, classes e contradições sócio-ambientais, trazendo conceitos e reflexões importantes sobre a questão das classes.
A autora mostra que existem autores que pretendem substituir a questão das classes sociais por desigualdades sociais e exclusão social e outros que defendem a permanência do conceito por conta da persistência factual das classes e suas contradições.
No entanto, a autora conclui que, uma vez que vivemos numa sociedade de risco, onde a poluição ambiental não respeita fronteiras e onde os riscos submetem a todos, é necessário refletir sobre as mudanças globais. No entanto, destaca que, pelo menos por enquanto, os riscos ambientais têm sim limites e são sofridos pelos mais pobres, pelas classes subalternas, pois são as mais vulneráveis. Dessa forma, a temática ambiental conclama a uma visão integrada das políticas energética, industrial, habitacional, urbana, que têm efeitos sinérgicos, e não pode ser resumida à gestão de vestígios de ecossistemas ou de mecanismos locais compensatórios para parcelas do imenso contingente de população atingida pelas externalidades do mundo da produção.
No artigo científico de Navarro e Cardoso intitulado “Percepção de risco e cognição: reflexão sobre a sociedade de risco”, as autoras discutem a distinção entre risco e percepção de risco, uma vez que estudos sobre percepção de risco têm sido fundamentais para a criação de indicadores utilizados em vários campos de conhecimento.
Afirma-se no artigo que a objetividade que se pretende dar aos indicadores compromete o processo cognitivo que elabora a percepção de risco, uma vez que cada indivíduo tem uma percepção diferente, dependendo do contexto em que está inserido.
As autoras passam então a discutir sociedade de risco, que segundo o conceito de Beck, designa um estágio da modernidade em que as ameaças produzidas até então começam a tomar corpo no caminho da sociedade industrial.
Os riscos acompanham a distribuição dos bens decorrentes da industrialização e do desenvolvimento de tecnologias, o que os tornam uma dúvida, uma incerteza, uma vez que não se tem certeza de como controlar e monitorar esses riscos.
Estas incertezas geram sofisticados processos cognitivos envolvendo objetividades e subjetividades motivadas pela perspectiva do risco com a qual se lida todos os dias.
As autoras concluem que iniciativas como políticas públicas e ações assistenciais concretas podem contribuir para estimular adoção de elementos que separam o risco em termos objetivos da dimensão subjetiva que pode adquirir sua percepção.
O risco é objetivo enquanto a percepção do risco é subjetiva pois trata-se de sentimentos expressados compostos por fantasias individuais sobre os perigos do mundo. Dessa forma, o maior perigo não é o risco, mas sim a percepção do risco.
Por fim, uma vez que se vive num mundo globalizado em que as informações circulam com muita rapidez, impõe-se novos parâmetros aos indivíduos que influenciam nas tomadas de decisões.
No artigo de Beck, “Momento Cosmopolita da sociedade de risco”, o autor fala da ironia do risco, objetivando trazer uma teoria nova, crítica, para olhar para o passado e futuro da modernidade mantendo duas visões contraditórias da modernidade, a autodestruição e a capacidade de recomeçar, as duas em equilíbrio.
Inicialmente o autor aborda os perigos antigos: o que há de novo sobre sociedade de risco? Nesse ponto destaca-se a distinção entre catástrofe e risco em que risco é a antecipação da catástrofe. A catástrofe é algo real. O autor dá como exemplo os ataques terroristas e a falsa sensação de segurança que as autoridades passam ao tentar controlar os riscos. A sociedade passa então a confiar nessa segurança, uma vez que existem várias incertezas com relação ao risco.
Com relação ao momento cosmopolita afirma-se que os riscos são globais e destroem os limites nacionais e confundem o nativo e o estrangeiro e que conectam atores além das fronteiras. Assim, os seres humanos devem encontrar o significado da vida nas trocas com os outros e não mais no encontro com o mesmo.
O autor destaca a injustiça social em que os mais pobres são os mais atingidos pelos perigos mas que os meios de comunicação em massa estão dando voz aos menos privilegiados.
Beck afirma que nenhuma nação pode enfrentar seus problemas sozinha, todas dependem de aliança e que uma ameaça abre horizontes para um governo alternativo, uma vez que as alianças instrumentalizam o Estado de modo a otimizar e legitimar os interesses do capital ao redor do mundo.
Quanto mais cosmopolitas forem as estruturas e atividades políticas, mais elas serão bem sucedidas na promoção de interesses nacionais, e maior será o poder individual na era global.
Por fim, o autor conclui que o egoísmo nacionalista tem que se abrir, em causa própria, para uma direção cosmopolita e que uma modernidade alternativa é possível.
Os três textos abordam a questão da percepção do risco que é subjetiva e é a forma como cada indivíduo vê o risco, além do que, cada artigo, dentro do seu contexto, relaciona-se com a justiça ambiental. Todos os autores abordam a sociedade do risco que nesse mundo globalizado os riscos também são globalizados.
Os artigos estão muito atuais uma vez que hoje estamos vivenciando grandes catástrofes como o ocorrido no Japão e as grandes enchentes ocorridas no Brasil.
Interessante destacar que os autores abordam a questão das autoridades que pretendem dar uma falsa sensação de controle dos perigos, como estamos vendo agora com a iminente ameaça de um ataque terrorista.

4 comments:

  1. Prezados colegas, peço desculpas pelo horário que publiquei a resenha. Tive problemas, ironicamente, com energia.

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  2. muito boa sua resenha Estefânia! Bem objetiva e coerente. Todos os textos estão interligados e apresentam uma nova visão do risco, que até o momento não havíamos visto no curso: a percepção do risco. Até agora havíamos estudado o risco de maneira objetiva, prática. Risco = frequência x magnitude. Agora apresenta-se o risco subjetivamente, ou seja, conforme a visão de cada ator.

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  4. Prezados Colegas.

    Conjugando-se os três textos apresentados percebemos que a sociedade passa por um momento crucial no que tange a definição de seu discurso, ou seja, o risco ambiental e a percepção do risco estão intimamente ligados aos interesses individuais ou os coletivos de classes sociais extremamente distintas, onde o risco é avaliado de forma séria quando pode causar danos às classes mais abastadas e quando referentes aos mais pobres o risco não existe, sendo este o ponto de partida para a continuação das Injustiças Ambientais. Tudo isso dá origem ao aspecto cosmopolita da sociedade de consumo, que ao se sentir ameaçada passa a se intitular cidadãos do mundo, buscando de forma desenfreada a sublimação de sua culpa, buscando novos responsáveis pelos desastres ambientais criados por eles.

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