Tuesday, March 29, 2011

Molion – cientista que não se curva aos ambientalistas radicais

Este artigo é uma homenagem ao cientista brasileiro Luiz Carlos Baldicero Molion (cujo curriculum segue abaixo), que não se deixa levar pelas teses do terrorismo climático difundidas pelo ambientalismo radical, cuja maior ênfase é dada ao aquecimenmto global. Não quero dizer com isso que não esteja acontecendo um aquecimento do planeta. Como Molion afirma, isso é cíclico, ou não, pois depende de inúmeros fatores e não, exclusivamente, das emissões de CO2 antropogênicas (produzidas pelo homem). O eventual aquecimento global, no entanto, está sendo utilizado como pretexto para se tentar inibir o desenvolvimento sócio-econômico dos países mormente do Terceiro Mundo, com afirmações catastrofistas sem nenhum fundamento científico, numa atitude – como Molion diz (e muitos outros autores) – «neocolonialista», coisa de fundo geopolítico e malthusiano. Parabéns, Molion! Em seguida, apresento duas matérias, a primeira, apresentada no site forumdaliberdade.com.br, com o curriculum de Molion; a segunda, com alguns comentários do cientista sobre a farsa do aquecimento global, mostrada no site pt.novopress.info (Ecologia & Ambiente de 01/10/2007). Os subtítulos foram acrescentados por mim para facilitar a leitura.


Quem é MolionQuem é Luiz Carlos Baldicero Molion Luiz Carlos Baldicero Molion é bacharel em Física pela USP e doutor em Meteorologia – e Proteção Ambiental, como campo secundário – pela Universidade de Wisconsin, Estados Unidos. Concluiu seu pós-doutorado no Instituto de Hidrologia, em Wallingford, Inglaterra, em 1982, na área de Hidrologia de Florestas. É associado do Wissenschaftskolleg zu Berlin (Instituto de Estudos Avançados de Berlim), Alemanha, onde trabalhou como pesquisador visitante de 1989 a 1990.
Molion tem mais de 30 artigos publicados em revistas e livros estrangeiros e mais de 80 artigos em revistas nacionais e congressos, em particular sobre impactos do desmatamento da Amazônia no clima; climatologia e hidrologia da Amazônia; causas e previsibilidade das secas do Nordeste; mudanças climáticas globais e regionais; camada de ozônio e fontes de energias renováveis. Foi cientista-chefe nacional de dois experimentos com a NASA sobre a Amazônia. Aposentou-se do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE/MCT), onde foi diretor de Ciências Espaciais e Atmosféricas, como Pesquisador Titular III. Entre 1990 e 1992, foi presidente da Fundação para Estudos Avançados no Trópico Úmido (UNITROP), Governo do Estado do Amazonas, em Manaus, onde desenvolveu pesquisas sobre desenvolvimento sustentado, em particular o biodiesel, combustivel renovável feito de óleos de palmáceas nativas.

Trabalho atual
Atualmente, encontra-se na Universidade Federal de Alagoas (UFAL), em Maceió, como professor associado e diretor de seu Instituto de Ciências Atmosféricas (ICAT). Também desenvolve pesquisas nas áreas de dinâmica de clima, desenvolvimento regional, energias renováveis e dessalinização de água. É membro do Grupo Gestor da Comissão de Climatologia da Organização Meteorológica Mundial (MG/CCl/OMM), como representante da América do Sul. Entre suas áreas de conhecimento e interesse, destaca a variabilidade e mudanças climáticas, particularmente os climas da Amazônia e Nordeste, os impactos de mudanças climáticas no desenvolvimento e proteção ambiental. No que diz respeito a recursos hídricos: água no sistema solo-planta-atmosfera, evaporação e evapotranspiração, mudanças climáticas e água. Tratando-se de desenvolvimento sustentado e energias renováveis (eólica, solar e aproveitamento de resíduos vegetais): óleos vegetais e biodiesel como combustiveis renováveis, métodos e equipamentos para tratamento e dessalinização de águas salobras, do mar e servidas.
Este trecho do post foi publicado no site www.forumdaliberdade.com.br.

Uma verdade inconveniente: dúvidas quanto ao aquecimento global
Luiz Carlos Molion, brasileiro doutorado em metereologia, 61 anos, formado na Inglaterra e nos EUA, membro do Instituto de Estudos Avançados de Berlim, representante do Brasil na Organização Meteorológica Mundial exprime-se:
«O Grupo intergovernamental sobre a evolução do clima (GIEC) afirma que as concentrações de CO2 atingidas em 2005, de 339 ppm (partes por milhão), são as maiores dos últimos 650 000 anos. É ridículo. (…)
Ao longo dos últimos 150 anos, já atingimos 550 ppm e até 600 ppm. (…)
Estarão a recuperar medos antigos? Tenho imagens de uma manchete do Time anunciando, em 1945: «O mundo está a derreter». Depois, em 1947, os títulos anunciavam o regresso de um período de glaciação. Hoje em dia, fala-se de novo de aquecimento. Não quero dizer que os eventos sejam cíclicos, a verdade é que os fatores que afectam a metereologia terrestre são muito numerosos. (…)
Trata-se de uma atitude neocolonialista: o domínio exerce-se através da tecnologia, da economia, e hoje em dia, também através de um terrorismo climático representado por essa ideia de aquecimento global. (…)
Atualmente existem muitos fundos à disposição dos especialistas que defendem a tese do aquecimento do planeta. Esses fundos provêem de governos que cobram impostos a sectores industriais que são partes interessadas neste negócio. São muitos os cientistas que se vendem para ver os seus projectos aprovados».
Texto colocado pela Novopress em Ecologia & Ambiente de 01/10/2007

Risco de Contaminação do solo e da água por metais pesados e agrotóxicos

Temos hoje uma enorme quantidade de agrotóxicos sendo utilizado no país, à medida que cresce as áreas destiandas ao agronegócio. Ao mesmo tempo, um número cada vez maior de áreas sendo destinadas a mineração sofrem por contaminação de gases tóxicos e metais pesados. Os efeitos adversos são conhecidos, em especial alguns efeitos bioacumuladores nos seres vivos e na cadeia trófica.

Ver a resolução 420/2009 sobre os estudos de avaliação e gestão de risco em solos contaminados.

Abaixo ver uma entrevista realizada com o médico e doutor de toxicologia, Wanderlei Pignati, da Universidade Federal do Mato Grosso, que realizou um estudo em conjunto coma Fiocruz. mostrando os riscos ambientais (saúde ambiental) e as possíveis consequencias devido a aplicação inadequada de agrotóxico em plantações de soja no municipio de Lucas do Rio Verde, um problema de saúde publica sem precendentes, em especial se a lei que determina a qualidade de água que consumismos aumenta o limite de tolerancia destes compostsos na água que bebemos ( sem contar a água dada dos animais que comemos).

“Na safra de 2009 para 2010, o Brasil usou 900 milhões, quase 1 bilhão de litros de agrotóxicos. É o maior consumidor do mundo. Aonde vai parar esse volume todo? É isso o que temos pesquisado. Estudamos a contaminação das águas e para isso a gente trabalha com bacias, pois as nascentes dos rios dessas bacias estão dentro das plantações de soja”, afirma o médico e doutor de toxicologia, Wanderlei Pignati, em entrevista a Manuela Azenha, publicada no sítio Vi o Mundo, 25-03-2011.

Há cinco anos, Lucas do Rio Verde, município de Mato Grosso, foi vítima de um acidente ampliado de contaminação tóxica por pulverização aérea. Wanderlei Pignati, médico e doutor na área de toxicologia, fez parte da equipe de perícia no local. Apesar de inconclusiva, ela revelava índices preocupantes de contaminação.

Em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Pignati passou então a dirigir suas pesquisas à região Centro-Oeste. Professor na Universidade Federal do Mato Grosso, há dez anos ele estuda os impactos do agronegócio na saúde coletiva. É o estado onde mais se aplica agrotóxicos e fertilizantes químicos no Brasil, país campeão no consumo mundial dessas substâncias. Pignati alerta que três grandes bacias hidrográficas se localizam no Mato Grosso, portanto quando se mexe com agrotóxico no estado, a contaminação da água produz impacto enorme.

O projeto de pesquisa coordenado por Pignati tem o compromisso de levar às populações afetadas os dados levantados e os diagnósticos. Para ele, é fundamental promover um movimento social de vigilância sanitária e ambiental que envolva não só entidades do governo, mas a sociedade civil organizada e participativa.

Diferentemente da União Européia, aqui a legislação não acompanha a produção de conhecimento científico acerca do tema. Segundo Pignati, a legislação nacional, permissiva demais, limita a poluição das indústrias urbanas e rurais, enquanto paralelamente a legaliza.

As portarias de potabilidade da água, por exemplo, ampliaram cada vez mais o limite de resíduos tóxicos na água que bebemos. E na revisão da portaria que está prestes a acontecer, pretende-se ampliar ainda mais.

Pignati condena a campanha nacional em prol do álcool e do biodiesel, energias que considera altamente prejudiciais e poluentes para o país que as produz: “Se engendrou toda uma campanha para dizer que o biodiesel viria da mamona, do girassol, de produtos que incentivariam a agricultura familiar, mas é mentira, vem quase tudo do óleo de soja”.

Assim como a pesquisadora cearense Raquel Rigotto, Pignati também questiona a confiabilidade do “uso seguro dos agrotóxicos”, um aparato de normas e procedimentos que mesmo se contasse com estrutura para seu funcionamento ideal, ainda assim não garantiria o manejo absolutamente seguro dos venenos.

Para Pignati, a falta de investimento na vigilância à saúde e ao ambiente no Brasil é uma questão de prioridade: “Tem muito dinheiro para vigilância, mas não para o homem. Existe um verdadeiro SUS que cuida de soja e gado, produtos para exportação”.

Eis a entrevista.

Desde o acidente de Lucas do Rio Verde, o que o senhor vem pesquisando?

Na verdade, faz mais de dez anos que pesquisamos os impactos do agronegócio ao homem e ao ambiente.

Na safra de 2009 pra 2010, Mato Grosso usou 105 milhões de litros de agrotóxico. O Brasil usou 900 milhões, quase 1 bilhão de litros de agrotóxicos. É o maior consumidor do mundo. E Lucas do Rio Verde usou 5 milhões em 2009. Aonde vai parar esse volume todo? É isso o que temos pesquisado.

Estudamos a contaminação das águas e para isso a gente trabalha com bacias. No Mato Grosso, você tem várias bacias. A bacia do Pantanal, que é do rio Paraguai e nasce aqui no estado. Tem a bacia do Araguaia, uma de suas grandes nascentes é o rio Morto, aqui em Campo Verde. E a bacia do Amazonas em Lucas do Rio Verde, cujas nascentes são os rios Verde e Teles Pires.

Portanto, quando você mexe com agrotóxico e fertilizante químico no Mato Grosso, está mexendo com as três grandes bacias do Brasil: a do Araguaia, a Amazônica e a do Pantanal. A bacia do Pantanal é uma questão mais séria ainda porque ela vai atingir outros países, como Paraguai, Argentina e Uruguai. Tem três grandes bacias e três biomas no estado: o pantanal, o cerrado e a floresta.

As nascentes dos rios dessas bacias estão dentro das plantações de soja. É o mesmo caso da bacia do Xingu, o maior parque índigena do Brasil. As suas nascentes estão nos municípios em volta, onde está cheio de plantação de soja, de milho e algodão. Queriam implantar mais uma série de usinas de açúcar e álcool no entorno do pantanal, mas veio um decreto do presidente proibindo. O agronegócio não respeita essa questão das bacias e nem das nascentes dos rios. Essa problemática é o que estudamos.

Em Lucas do Rio Verde, em 2006, houve um acidente agudo que saiu na mídia. Na mídia daqui, saiu pouco porque é muito comprometida com quem a paga, que na época era o governador Blairo Maggi. Ele tem a mídia sob controle. Na época, estavam dissecando soja em torno das plantações, que se estendem até a beira da cidade. Planta-se e pulveriza-se com trator ou com avião. Em Lucas, pulverizava-se a soja transgênica, que é muito pior para o ambiente do que a soja normal.

A maioria da soja já é transgênica?

No Mato Grosso, 80% dessa última safra já é. No Rio Grande do Sul, é 95%. Agora está entrando muito milho transgênico também. Aqui, tira-se a soja e planta-se o milho. São duas safras grandes de plantação aqui.

Os transgênicos exigem mais agrotóxicos?

A soja transgênica sim, porque não é resistente à praga, ela é resistente a um agrotóxico, que é o glifosato. Esse é um agrotóxico bastante usado, que a Monsanto patenteou com o nome de Roundup. Na soja comum, você não pode usar o glifosato depois de ela ter nascido, porque elemata o mato e a soja também. Mata minhoca, fungo, bactérias sensíveis a ele. Por biotecnologia, pegaram uma bactéria resistente ao glifosato e injetaram o DNA dessa bactéria no DNA da soja.

Então, o glifosato só era usado antes da soja nascer para matar as ervas daninhas. Agora, como é resistente, aplica-se o glifosato a cada quinze dias e o uso dele foi multiplicado na soja. Depois, precisa madurar e dissecar a soja rapidamente para plantar o milho. No meio natural, demora um mês e pouco. Com esse dissecante, em três dias a soja madura, seca e a máquina já pode entrar na plantação. Isso para aproveitar as chuvas da segunda safra e plantar o milho. Mas para dissecar agora já não se pode usar o glifosato, porque a soja é resistente a ele. Então usa-se outro tipo de agrotóxico, o diquat ou o paraquat, classificado como classe 1, extremamente tóxico. O glifosato é classe 4, tóxico também, mas pouco. O paraquat é proibido na
União Européia.

Além de multiplicar o uso do glifosato, você agora usa um agrotóxico extremamente tóxico como secante [da soja]. E não é toxico só para o humano, ele é altamente perigoso para o ambiente, porque mata tudo quanto é coisa, abelha, pássaro. E no caso de Lucas, eles estavam dissecando a soja de avião, usando diquat e paraquat em torno da cidade.

Uma nuvem foi para dentro da cidade e queimou todas as plantas medicinais. Tinha um horto de plantas medicinais com mais de 100 canteiros que abastecia várias cidades. Foram queimadas as hortaliças e plantas ornamentais da cidade também. Deu um surto agudo de vômito, diarréia e alergia de pele em crianças e idosos. Os médicos classificaram como rotavirose.

Nós da Universidade Federal do Mato Grosso fomos chamados pelo Ministério Público de Lucas do Rio Verde e do estado para fazer uma perícia. A gente viu que a coisa era bastante séria, um acidente sério que acontece todo dia. É a chamada deriva de agrotóxico. É previsível, porque os agronômos sabem que tem vento, o vento não está parado. Então, você passa agrotóxico perto da cidade e o vento vai levá-lo para lá.

O pessoal se esconde por trás da palavra “deriva” para dizer que aquilo foi um acidente, mas é um acontecimento prevísivel. Passar um agrotóxico extremamente tóxico a partir de um avião é mais previsível ainda. Mesmo quando o agrotóxico já está no solo, ele depois se evapora. Jogar veneno é um ataque quase de guerra. Não se trata de pesticida ou defensivo agrícola. Na legislação, está como agrotóxico. O trabalhador que está passando o agrotóxico pode estar protegido com todos os EPI (equipamento de proteção individual), mas e o ambiente? Vai colocar EPI nas outras plantas? Querem matar os insetos, o fungo, a erva daninha. Então teria de colocar EPI nos outros animais, como no peixe e no cavalo.

O uso seguro do agrotóxico é altamente questionável. Pode ser seguro para o trabalhador, isso se ele usar todos os EPI. Mesmo assim, tem toda uma questão da eficiência e eficácia desses EPI. Sou também médico do trabalho e a gente vê isso. A eficiência e eficácia do EPI é de 90%, se [os trabalhadores] usarem máscara com o filtro químico adequado. E o resto do vestimento? Agrotóxico penetra até pelo olho! Pela mucosa, pela pele. Então teria que ter até um cilindro de oxigênio para respirar igual a um astronauta. O filtro pega 80% ou 90% dos tipos de agrotóxico. Hoje, você tem mais de 600 tipos de princípios ativos e são 1.500 tipos de produtos formulados. Tem agrotóxicos novos com moléculas muito pequenas que passam pelo filtro. Então, com toda a proteção ideal, você protege o trabalhador. Mas, e o ambiente?

Os resíduos vão sair na água, depois na chuva, vão ficar no ar, vão para o lençol freático. A gente viu isso na cidade, depois fizemos uma perícia, mas ficou inconclusiva. Por isso, resolvemos fazer uma pesquisa junto com a Fiocruz. Ao mesmo tempo, estava-se articulando pesquisas em outros estados aqui da região Centro-Oeste. O nome da nossa pesquisa é “Avaliação do risco à saúde humana decorrente do uso do agrotóxico na agricultura e pecuária na região Centro-Oeste”. A gente pegou dois municípios e um município-controle, em que quase não se usa agrotóxico.

As pesquisas em Lucas do Rio Verde já estão bastante avançadas?

Já. Talvez a análise do leite materno tenha sido um dos últimos tópicos, mas a gente continua com sapos e com peixes. Em outros munícipios, a gente não fez o teste do leite, por exemplo. Mas isso porque Lucas é o maior produtor de milho no estado doMato Grosso, terceiro em produção de soja. Então achamos que era necessário o trabalho. Analisamos o leite materno de 62 mulheres em Lucas, 20% das nutrizes amamentando no ano passado. Todas as amostras revelaram algum agrotóxico. Mas o que mais deu nessas amostras é um derivado de DDT, que se usava na agicultura até 1985 e na saúde pública, até 1998, para combater a malária.

Só que ele é cumulativo, entra na gordura e não sai mais. O segundo que mais deu foi endossulfam, 40%. É um clorado proibido faz 20 anos na União Européia. E por ser um clorado também fica acumulado na gordura. Retirar o leite é uma maneira de analisar os resíduos de agrotóxico na gordura, menos agressiva que uma biópsia. Quando a mulher fabrica o leite, as gorduras mais antigas vão para o leite.

Depois desse acidente, despertou na população um movimento de querer saber o que está acontecendo.

E depois que a perícia averigua a causa do acidente, o que acontece?

Algumas coisas você comprova na hora, outras demoram anos. Fazemos análise de resíduo de agrotóxico na água, no solo, na chuva, no leite.

Para avaliar o leite, a gente começou há três anos a desenvolver uma técnica para analisar dez agrotóxicos de uma só vez. Uma substância isolada é custosa em termos de dinheiro e tempo e, analisando dez substâncias, a chance de encontrar resíduos é maior. Das amostras, 100% deram pelo menos um tipo de agrotóxico. Pegamos os 27 tipos de agrotóxicos mais consumidos na região do Mato Grosso e fizemos as análises. Dentre os 27 mais consumidos, você não tem o glifosato, por exemplo, que é o herbicida mais usado no país, porque não tínhamos tecnologia no Brasil para analisá-lo. Hoje tem, mas é muito cara. Os únicos que fazem esse exame são meia dúzia de laboratórios.

Periodicamente a gente levanta dados, tem as dissertações de alunos. No nosso grupo de estudos, tem uma aluna que estuda resíduo de agrotóxico em leite, outra que estudou agrotóxicos e câncer. Onde tem a maior incidência de câncer aqui no MT? Justamente nas regiões produtoras do estado. Em torno de Sinop: Lucas do Rio Verde, Sorriso, Nova Mutum, que são os municípios no entorno. A região deTangará da Serra, Sapezal, Campos Novos dos Parecis, que são os grandes produtores de soja. E a região de Rondonópolis, Primavera, Campo Verde,Itiquira, onde se produz muito algodão.

São as grandes regiões produtoras onde tem maior incidência de câncer, má formação, intoxicação aguda. Você tem 80% a 90% desmatado nesses lugares. Se está desmatado, é porque está se plantando soja, milho e algodão até a beira das casas. Mato Grosso produz 50% do algodão do Brasil e é justamente a cultura que mais usa agrotóxico. No Mato Grosso, em média, um hectare de soja usa dez litros de agrotóxico: herbicida, inseticida, funigicida e o dissecante. O milho usa seis litros. A cana, quatro litros e o algodão, vinte.

Como a gente tem grande produção de soja — são seis mihões de hectares de soja no Mato Grosso –, dá 60 mihões de litros de agrotóxico na soja. Obtemos esses números no INDEA [Instituto de Defesa Agropecuária do Estado de Mato Grosso], onde todo receituário agronômico e uso de agrotóxico é registrado. Na maioria dos estados não tem, mas deveria haver esse banco de dados. São 40 municípios que consomem 80% desses 100 milhões de litros de agrotóxicos.

No geral, ocorre uma contaminação, inclusive da chuva, que tem muito agrotóxico presente. Ele evapora, depois desce, principalmente no período de chuva, que é quando mais se usa agrotóxico. Na entressafra, chove pouquíssimo. Então, quase ninguém está plantando. O agrotóxico evapora, desce e vai para toda região, não só para aquele município onde foi aplicado. Vai para o ar também. Se você está pulverizando a alguns metros de uma escola, esse ar vai para os alunos, para os professores. E os poços artesianos a alguns metros de uma grande plantação de soja, milho ou algodão também se contaminam.

Com o tempo, o agrotóxico vai penetrando no solo e sai no poço, mesmo que esteja a 50, 60, 70 metros de profundidade. Isso é o que a gente chama de poço semi artesiano e a maioria é assim. Uma região de cerrado tem pouco abastecimento por córrego, é mais por poço artesiano que as cidades e comunidades rurais se abastecem.

Encaminhamos o relatório dessa pesquisa para o CNPq [Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico]. Lá em Lucas, a gente já fez uma audiência pública na Câmara Municipal, onde apresentamos esses dados. Estavam presentes vários professores, vereadores, os secretários da saúde, educação e agricultura. As Secretaria da Agricultura e do Meio Ambiente são juntas em 140 dos 141 municípios de Mato Grosso. O grande poluidor do meio ambiente — a agricultura químico-dependente, que desmata e usa muito agrotóxico e fertilizante químico – tem o mesmo gestor e fiscalizador que o meio ambiente. A maioria dos secretários da agricultura é de fazendeiros, eles não vão denunciar a poluição dos colegas deles. Aqui no estado, a única exceção é Cuiabá, mas é onde não tem agricultura.

O MP [Ministério Público] está elaborando um termo de ajuste de conduta. Em Campo Verde também teve uma audiência pública para estabelecer uma legislação com os dados parciais que a gente já tinha e fazer uma legislação que determinasse a distância mínima para pulverização no entorno da cidade. O promotor recebeu o relatório e está preparando um ajuste de conduta também.

Esses lugares são semelhantes entre si, porque são dos 40 municípios do estado que consomem 80% dos agrotóxicos, dos fertilizantes químicos e das sementes. A dinâmica é parecida nesses 40 municípios. Desmata-se e pulveriza-se até a beira do córrego, no entorno dele e nas nascentes. As comunidades rurais e a própria cidade ficam ilhadas no meio das plantações.

No pasto, usa-se muito herbicida e inseticida e isso vai entrar no ciclo da carne. Os outros suínos e as aves são contaminados pela soja e pelo milho, porque a ração desses animais é à base desses produtos. Dessa maneira, os resíduos do agrotóxicos vão parar nos alimentos.

O Ministério da Saúde analisou 20 tipos de alimentos e 30% pelo menos deram algum tipo de agrotóxico. A maioria dos agrotóxicos analisados — foram mais de cem – é autorizado aqui no Brasil.

Uma boa parte, uns 14, está sob revisão. Dois ou três foram proibidos e o endossulfam, bastante usado aqui e muito tóxico, vai ser proibido a partir de julho de 2013.

Metamidofois, outro fosforado, que dá muito problema no sistema nervoso, psiquiátrico, até doença de Parkinson, vai ser proibido a partir de julho do ano que vem. Esses são proibidos há vinte anos na União Europeia e aqui quando é proibido, é só partir de 2013. Sabe-se que o metamidofós é cancerígeno, neurotóxico e mesmo assim só será proibido a partir de julho do ano que vem.

Já existe conhecimento científico suficiente para uma política mais incisiva? Por que é tão permissiva a legislação brasileira em relação aos agrotóxicos?

Você tem a lei do agrotóxico, a Lei 7.802 de 1989, depois regulamentada pelo decreto 4074, de 2002. Mas existem alguns furos. Primeiro, quem está fiscalizando? É um volume imenso de agrotóxicos, todos permitidos no Brasil. Teria de haver alguns critérios. E os critérios que existem, como a distância mínima de 500 metros de nascente de água, casas, criação de animais, ninguém respeita.

Mas os critérios no Brasil são diferentes? Por que os proibidos lá fora, aqui são permitidos?

São diferentes. Os mais tóxicos são proibidos lá e aqui permitidos. Isso por causa da nossa dependência econômica. Quem governa o Brasil? Aqui, no Mato Grosso, os grandes governantes são fazendeiros, assim como no Goiás. Falo de governantes não só do executivo, mas do legislativo também. Deputados estaduais, os veradores, uma boa parte é fazendeiro e comprometido com esse modelo de desenvolvimento.

Não querem mudar agora o Código Florestal para devastar mais ainda? Aqui, no Mato Grosso, 80% estão devastados por quê? Na região Amazônica também. Segundo a lei, teria que desmatar 20% e preservar 80% nas áreas de floresta, de preservação permanente. No cerrado, você pode desmatar 70% e deixar 30%.

Os agrotóxicos são fabricados lá fora e vêm para o Brasil. O compromisso dos empresários que vendem esses produtos não é com a saúde. E o grande fazendeiro quer saber de matar o que ele chama de praga.

A gente tem que inverter isso, quem é a praga que começou a desmatar, depois a usar um monte de veneno? Dá para produzir sem o veneno? Dá, é o modelo da agroecologia. Entra no modelo dos orgânicos.

O maior produtor de açúcar e álcool orgânico é o Brasil. É produzido numa cidade do interior de São Paulo, Sertãozinho. São 16 mil hectares de cana num processo industrial semelhante ao outro, tem máquina cortando mas sem usar uma gota de fertilizante químico ou agrotóxico. Começou 30 anos atrás, selecionando as sementes, as mudas de cana resistentes. Montou-se um laboratório próprio, com biólogo, engenheiro, para eles mesmos selecionarem ao invés de comprar sementes já selecionadas.

Diferentemente dos outros produtores, que dependem da meia dúzia de empresas que dominam toda indústria de semente de soja, milho, algodão, feijao, arroz. Essas empresas não fazem seleção para não usar agrotóxico ou fertilizante químico, se não como vai ficar a indústria deles, de fertilizante e agrotóxico? O mesmo dono da patente da semente é o dono do agrotóxico e do fertilizante químico. E mais ainda: é o mesmo que produz o medicamento, da indústria química.

Hoje, uma boa parte de medicação que a gente usa para tratar pessoas que tiveram infecção aguda, câncer ou uma outra doença neurológica, psiquiátrica, é produzido por quem produz fertilizante químico e agrotóxico. É um complexo químico-industrial, estão todos ligados.

É um tanto esquizofrênico para essa sociedade que se diz desenvolvida. Tem que ser outro modelo de desenvolvimento, isso porque eu estou discutindo a área agrícola sem entrar na indústria urbana, que é semelhante.

Existe uma legislação para limitar a poluição e uma legislação paralela para legalizá-la. Os jornalistas perguntam quanto que é o limite máximo permitido de agrotóxico no litro d’água? A gente já chegou a esse grau de não questionamento, de não se indignar, de acatar isso.

Se você pegar a Portaria 518 de 2004, do Ministério da Saúde, que chama-se Portaria da Potabilidade da Água, dá pra ver o que é permitido ter na água hoje. A gente fala muito de coliformes fecais. Mas e os agrotóxicos são permitidos? E os solventes? E metais pesados? Todos eles são permitidos.

O litro de água que você bebe hoje, de acordo com essa portaria, pode ter 13 tipos de metais pesados, 13 tipos de solventes, 22 tipos de agrotóxicos diferentes e 6 tipos de desinfetantes. Hoje, a questão mais importante na contaminação da água não é mais a bactéria, mas toda essa contaminação química.

Essas portarias de potabilidade da água aumentaram cada vez mais o limite de contaminação. Por quê?

Se você comparar essa portaria com a da Uniao Européia, vai ver que aqui tem 22 tipos de agrotóxicos enquanto lá pode ter, no máximo, cinco. Os limites lá são ínfimos.

Enquanto lá você pode ter 20 microgramas de glifosato, aqui pode ter 500 microgramas. E ainda querem subir para mais. A primeira portaria, de 1977, podia ter 12 agrotóxicos, 10 metais pesados, zero solventes e zero derivados de desinfetantes. A seguinte já é de 1990. A vigente é de 2004. Isso acompanha o crescimento da população urbana e rural, que se reflete na água. Os agrotóxicos são a poluição rural. Não se faz um tratamento adequado da água, só tiram os coliformes, botam cloro e fazem um tratamento primário. Esse tratamento, de 100 anos atrás, é feito por decantação.

Você coloca o produto, ele decanta, vai todo para o fundo, aí você aspira. É como limpar uma piscina. E os produtos químicos que ficaram dissolvidos na água? Quem usa muito solvente são as indústrias urbanas. Metais pesados são usadas nas indústrias urbanas e na agricultura também, junto com os fertilizantes químicos. Aquilo se acumula durante anos e sai na água. A portaria da potabilidade da água reflete a legalização da poluição urbana e rural.

Como o desenvolvimento urbano e rural foi crescendo, as portarias foram permitindo cada vez mais?

Sim, porque essas substâncias vão sendo usadas cada vez mais. Depois, na revisão da portaria, já querem aumentar o limite. Querem tirar alguns agrotóxicos antigos e colocar outros novos. É uma sociedade sem muita informação e sem muita indignação. A grande mídia fala de limite máximo de resíduo como se fosse uma banalidade. Tudo isso é permitido na água? O leite da vaca tem um monte de coisa permitida também, agrotóxicos que são muito usados no pasto e vão parar na carne e no leite.

Agora, quando é carne para exportar e existe esse limite de resíduo, aí fazemos as análises. Às vezes, volta soja e carne porque não foram aprovados pelo nível de resíduo de lá [do país importador]. Alguém já viu incinerar aqueles vários navios de soja que voltaram? Depois que o produto saiu da indústria e foi para o supermercado daqui, seja carne, frango, soja, milho, quem fiscaliza?

A vigilância sanitária do município ou do estado tem que ir fazer as análises, e não se faz isso de maneira rotineira. Quando fazem análise de algum produto, analisam o coliforme fecal. Vêem se aquele produto entrou em putrefação. Mas vai fazer análise de resíduo de agrotóxico, que é cara?

Não fazem as análises por falta de estrutura?

Por falta de estrutura, mas não tem estrutura porque não tem investimento. Mas para exportar não fazem as análises? E para cuidar da saúde do boi e da soja? Existe muito dinheiro para a vigilância à saúde no Brasil, mas não para o homem. Existe a vigilância do boi e da soja. O SUS do boi e da soja. A vigilância do boi e da soja tem escritórios do governo do estado nos 142 municípios, com agrônomo, veterinário. Tem mais de 20 carros. Quem é que faz toda a estrutura para vacinar 27 milhões de cabeças de gado do Mato Grosso?

Fazem campanha, o veterinário vai todo mês na fazenda ver se vacinou ou não contra febre aftosa. O fazendeiro compra a vacina, tudo bem, que é o custo menor. Aqui,no Mato Grosso, você tem 500 mil crianças abaixo de cinco anos e qual é a cobertura contra sarampo, hepatite, meningite, tuberculose? Vacinou quantos por cento das crianças? As 27 milhões de cabeças [de gado] estão todas vacinadas, do contrário não são exportadas. A infraestrutura é com o dinheiro público, mas os bois são de dinheiro privado. Com a soja, é a mesma coisa. Tem toda uma estrutura para não espalhar a ferrugem, que é um fungo da soja. Os agrônomos da Saúde tiram amostra, orientam os fazendeiros, fazem análise. O boi para exportar recebe cuidado, mas o que fica aqui e vai parar no supermercado, não.

O Mato Grosso é o maior produtor agrícola e maior consumidor de agrotóxico do país. O senhor acha que a alta produtividade de Mato Grosso depende do agrotóxico?

As duas coisas estão ligadas. Cada vez se consome mais. Há dez anos, o hectare de soja consumia 8 litros e não 10 litros de agrotóxico, como hoje. Porque hoje você tem uma série de plantas já resistentes aos vários tipos de agrotóxicos. Então, primeiro você usa mais para ver se resolve.Depois, você troca por outro mais tóxico.

Mas é viável eliminar os agrotóxicos?

Se você partir do sistema e começar a substituir a semente, sair desse domínio da semente, lógico que é viável, em grande escala. Como acontece em Sertãozinho, o maior produtor de açúcar orgânico do mundo. Eles exportam 99,9% dos produtos para União Européia. Hoje em dia a UE está preferindo nossos produtos orgânicos. Hoje tem algumas fazendas produzindo soja orgânica ou mesmo a soja tradicional, não transgênica, que já consome menos agrotóxico.

A UE prefere a soja não transgênica não só por causa do gene da bactéria que foi colocado junto com o da soja, mas também por causa dos resíduos do agrotóxico. Tem um nível de glifosato maior e depois, para dissecar, é usado o diquat ou paraquat, que é proibido na UE. Na China, na Índia, nos países do Oriente Médio e da África, esses produtos entram. Vamos levar a poluição para os nossos irmãos da África, da Ásia, que lá não tem controle nenhum. A sociedade precisa abrir os olhos e se mobilizar.

O governo Lula manteve esse modelo de desenvolvimento?

Manteve, inclusive incentivou muito. Ele entrou dizendo que faria reforma agrária e fez praticamente nada. Ele fez 10% do que foi prometido. Em relação aos fazendeiros, ajudou o investimento na produção do biodiesel, da cana, ajudou a arrumar os portos, as estradas, mantendo algumas coisas do Fernando Henrique Cardoso. Por exemplo, manteve a antiga lei Kandir, em que os produtos rurais são isentos de imposto de exportação e do ICMS, então produzem soja e não fica um tostão aqui. Só produto industrializado é que paga imposto. Então, por que a gente produz tanta soja, exporta e mantém pouca industrialização aqui?

A carne é a mesma coisa, se você industrializar o que tem no frigorífco e transformar em salsicha, linguiça, aí paga imposto. E ainda vieram os governos estaduais, acabando com o ICMS.

Agrotóxico não paga ICMS, mas medicamento paga. Carros usados na agricultura, como tratores, não pagam ICMS aqui em Mato Grosso. São um monte de benesses que os governos federal e estadual deram ao agronegócio. Para a agricultura familiar, deu um pouquinho, para não dizer que não deu nada. Deram 95% aos grandes e 5% para a agricultura familiar.

Essa assistência técnica que o governo dá para os grandes produtores de boi e soja não tem nos assentamentos rurais. O governo manteve o modelo e ampliou mais ainda com o negócio do biodiesel, do álcool, dizendo que é a energia mais limpa do mundo. É mais limpa quando está dentro do navio, pronta para exportar, pois aqui dentro o álcool é a energia mais suja do mundo. E agora o biodiesel. Tem que desmatar, usar agrotóxico, fertilizante químico, é o que mais emprega trabalho escravo, é o que mais está matando trabalhador na zona rural, inclusive de exaustão. Polui com os detritos dessas indústrias rurais.

Nossa gasolina tem que ter 20% de álcool e se consome muito nos carros a álcool. Agora, por decreto governamental, o diesel é 5% biodiesel. E de onde vem? Se engendrou toda uma campanha para dizer que viria da mamona, do girassol, de produtos que incentivariam a agricultura familiar. Mentira, hoje, 95% vem do óleo de soja. O Mato Grosso é um dos maiores produtores de biodiesel. Você pega o óleo de soja, que é um alimento, e transforma em óleo para ser misturado com o diesel lá emPaulínia [São Paulo]. O Lula incentivou isso. A maior indústria de biodiesel do Brasil fica aqui em Barra do Bugres e há dois anos o Lula veio aqui inaugurar. Agora já tem dezenas no país todo. Assim como o álcool, com o qual poderia se produzir açúcar e outros alimentos em vez de ser produzido para carros.

Do governo Dilma pode se esperar alguma mudança?

É continuidade do governo que prioriza o desenvolvimento industrial urbano e rural nesse mesmo modelo. Pode piorar ainda mais se passar essa reforma do Código Florestal. Não é o governo da Dilma, é de vários partidos, como foi o do Lula. Um monte de empresários que permitem e mantêm esse modelo. A gente pensou que ogoverno Lula fosse mudar, não digo acabar com o capitalismo, mas, pelo menos, mudar um pouco essa correlação. Melhorar a agricultura familiar, ir no sentido da agroecologia, dar o mesmo privilégio de financiamento para os grandes e pequenos produtores. Nada disso aconteceu.

Lula ampliou o sistema de crédito para a agricultura familiar. O senhor não acha o suficiente para inverter o rumo do desenvolvimento?

Ele ampliou no orçamento, mas no financeiro, quem conseguiu pegar? Grande parte dos assentamentos não tem uma legalização que pode ir lá pegar o financiamento. E se conseguir pegar, cadê a assistência técnica para ele produzir? A agricultura familiar vive um drama. Os pequenos produtores podem pegar 10 mil reais e o grande pega 10 milhões, 20 milhões. Desses 10 milhões de reais, ele vai investir oito e com os outros dois milhões, ele compra apartamento, outras coisas.

O pequeno, que pegou 10 mil reais para produzir, é com muito sacrifício, bota toda a família para trabalhar. São políticas iguais para o grande e para o pequeno — e não funciona assim. Tem de ter uma estrutura de crédito, de manejo, de assistência, que hoje não há. O grande produtor tem seus agrônomos. O pequeno, não. Fica sendo uma política mais demonstrativa, “dei tantos milhões”. Mas quantos pegaram? E os que pegaram o financiamento, quantos cumpriram aquilo? O pequeno gosta de cumprir. Os grandes não precisam, porque depois vem a anistia, eles não pagam impostos.

Sunday, March 27, 2011

Semana 3 - GRA - Manual de orientação para a elaboração de estudos de análise de riscos - CETESB - Norma P4.261, maio/2003

O Manual de orientação para a elaboração de estudos de análise de riscos editado pela Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (CETESB) e divulgado em maio de 2003 tem como objetivo padronizar a metodologia utilizada para elaboração de estudos de análise de riscos em atividades consideradas perigosas.
O Manual é divido em duas partes, a primeira traz os critérios para a classificação de instalações industriais quanto à periculosidade e a segunda apresenta o termo de referência para elaboração de estudos de análises de riscos que deverá ser apresentado à CETESB.
Inicialmente o Manual apresenta uma série de definições importantes que serão utilizadas ao longo do Manual.
Na primeira parte a CETESB especifica os empreendimentos que dependem da elaboração de estudos de análise de riscos durante o processo de licenciamento ambiental: sistemas de dutos, externos a instalações industriais, destinados ao transporte de petróleo e seus derivados, gases ou outras substancias químicas e plataformas de exploração de petróleo e/ou gás. Especifica também os empreendimentos não regidos pela norma, bem como os que serão estudados caso a caso pela CETESB.
Logo a seguir, apresenta-se o desenvolvimento da metodologia para classificação das instalações industriais quanto a periculosidade estabelecendo, entre outros, valores de referências para classificação de gases e líquidos tóxicos, inflamáveis, determinando quantidades e distâncias seguras visando a não ocorrência de danos indesejáveis.
Apresentam-se então as etapas para a aplicação do critério e, por fim, a avaliação dos resultados. Constatando-se a presença de população fixa dentro dos limites determinados pela distância segura deverá ser realizado um Estudo de Análise de Riscos (EAR). Caso contrário, fica dispensada a elaboração o EAR, devendo ser realizado um Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR).
A segunda parte, que trata do termo de referência para elaboração de estudos de EAR, aplica-se a avaliação dos riscos à população externa ao empreendimento, ou seja, aos danos causados às pessoas nas áreas circunvizinhas, localizadas além dos limites físicos das instalações e deve ser apresentado independentemente da fase em que se encontra o empreendimento.
Importante destacar que o termo de referência não se aplica a saúde e a segurança dos trabalhadores ou danos aos bens patrimoniais das instalações analisadas, e que os impactos ao meio ambiente serão analisados caso a caso pela CETESB e fora do escopo do termo de referência.
O EAR é composto por 6 etapas: caracterização do empreendimento e da região; identificação de perigos e consolidação das hipóteses acidentais; estimativa dos efeitos físicos e análise de vulnerabilidade; estimativa de freqüências; estimativa e avaliação de riscos; e gerenciamento de riscos.
Cada etapa do EAR é descrita detalhadamente a partir de referenciais, modelos, tabelas e técnicas específicas. Destaca-se a questão da estimativa e da avaliação dos riscos, onde o risco social (agrupamento de pessoas exposta aos danos decorrentes de um ou mais cenários acidentais) é considerado prioritário em relação ao risco individual (uma pessoa exposta ao perigo), o que pode levar a situações em que o empreendimento possa ser aprovado ainda que afete alguma pessoa individualmente.
Por fim, a segunda parte do Manual traz o detalhamento do que deve conter e como deve ser o PGR o qual deverá ser revisto periodicamente de modo a identificar novas situações de risco e manter as instalações operando de acordo com os padrões de segurança exigidos.
O Manual, de acordo com site da CETESB, é a revisão de dois documentos que tratavam de análise de riscos publicados pela própria CETESB. Ainda segundo a CETESB foi feito um workshop internacional para colher informações sobre aceitabilidade e os critérios que norteavam decisões em diversos países.
Assim, em 21/08/2003 foi publicado no Diário Oficial de União o Manual aqui discutido. O que se verifica é um Manual bem estruturado com valores referenciais definidos e bem detalhados.
No entanto, percebe-se que o Manual traz diversas brechas para a CETESB “liberar” alguns processos do licenciamento ambiental, como é o caso do gasoduto de distribuição de gás brasiliano trecho São Carlos - Porto Ferreira apresentado por Denis Kirchhoff em sua dissertação em 2004.

Wednesday, March 23, 2011

Perigo de água contaminada por radiação em Tokyo

Tokyo Says Radiation in Water Puts Infants at Risk

TOKYO — Radioactive iodine detected in Tokyo’s water supply prompted Japanese authorities on Wednesday to warn that infants in Tokyo and surrounding areas should not drink tap water, adding to the growing anxiety about public safety posed by Japan’s unfolding nuclear crisis.

Ko Sasaki for The New York Times

Kokona, an 8-month-old baby, received a medical examination at a temporary clinic in Hadenya, Minamisanroku, Japan. More Photos »

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The Destruction and Aftermath

Photos of the unfolding disaster in Japan.

    Nuclear and Industrial Safety Agency, via Jiji Press, via Agence France-Presse — Getty Images

    A photo released by the Japanese Nuclear and Industrial Safety Agency showed engineers checking facilities at the central control room of the Fukushima Daiichi plant.
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    Ei Yoshida, head of water purification for the Tokyo water department, said at a televised news conference thatiodine 131 had been detected in water samples at a level of 210 becquerels per liter, about a quart. The recommended limit for infants is 100 becquerels per liter. For adults, the recommended limit is 300 becquerels. (The measurement unit is named for Henri Becquerel, one of the discoverers of radioactivity.)

    The announcement prompted a run on bottled water at stores in Tokyo and a pledge from the authorities to distribute bottled water to families with infants. Prime Minister Naoto Kan said earlier Wednesday that the public should avoid additional farm produce from areas near the Fukushima Daiichi Nuclear Power Station, severely damaged by the March 11 earthquake and tsunami, according to the Japanese news media.

    The Health Ministry said in a statement that it was unlikely that there would be negative consequences to infants who did drink the water, but that it should be avoided if possible and not be used to make infant formula. There was some confusion about the public health advice, with experts saying it should also apply to pregnant women, since they and fetuses are vulnerable.

    “It’s unfortunate, but the radiation is clearly being carried on the air from the Fukushima plant,” said Yukio Edano, the chief cabinet secretary. “Because it’s raining, it’s possible that a lot of places will be affected. Even if people consume the water a few times, there should be no long-term ill effects.”

    There has been frequent rain in recent days and the watershed for Tokyo’s tap water lies almost entirely to the north and northeast of the city. The nuclear plant is about 140 miles to the north.

    But it was not entirely clear why the levels of iodine were so high, said a senior Western nuclear executive, noting that the prevailing breezes seem to be pushing radiation out to sea. “The contamination levels are well beyond what you’d expect from what is in the public domain,” said the executive, who insisted on anonymity and has broad contacts in Japan.

    The daily Asahi Shimbun cited the Health Ministry as saying that drinking the water would hurt neither a pregnant woman nor her fetus, and that it was safe for bathing and other everyday activities.

    But experts say that pregnant women, nursing mothersand fetuses, as well as children, face the greatest danger from radioactive iodine, which is taken in by the thyroid gland and can cause thyroid cancer. Children are at much higher risk than adults because they are growing, and their thyroid glands are more active and in need of iodine. In addition, the gland is smaller in children than in adults, so there is less tissue to share the radiation: a given amount of iodine 131 will deliver a higher dose of radiation to a child’s thyroid and potentially do more harm.

    According to the United States Centers for Disease Control and Prevention, if an adult and a child ingest the same amount of radioactive iodine the thyroid dose will be 16 times higher to a newborn than to an adult; for a child under 1 year old, eight times the adult dose; for a 5-year-old, four times the adult dose.

    Pregnant women also take up more iodine 131 in the thyroid, especially during the first trimester. The iodine crosses the placenta and reaches the fetus, and the fetal thyroid takes up more and more iodine as pregnancy progresses. During the first week after birth a baby’s thyroid activity increases up to fourfold and stays at that level for a few days, so newborns are especially vulnerable. Women who are breast-feeding will secrete about a quarter of the iodine they ingest into their milk.

    The compound potassium iodide can protect the thyroid by saturating it with normal iodine so it will have no need to soak up the radioactive form. People in Japan have been advised to take it. Scientists say that if it is in short supply and must be rationed, the pills should go first to pregnant women and children.

    The 1986 accident at Chernobyl caused an epidemic of thyroid cancer — 6,000 cases so far — in people who were exposed as children. The risk in that group has not decreased over time, and many more cases are expected. The culprit was milk produced by cows that had grazed on grass that was heavily carpeted by fallout. The epidemic could probably have been prevented if people in the region had been told not to drink milk and if they had been given potassium iodide.

    The warning applied to the 23 wards of Tokyo, as well as the towns of Mitaka, Tama, Musashino, Machida and Inagi to the west of the city.

    After the announcement on Wednesday, at the Lawson convenience store in the Tsukiji neighborhood of central Tokyo, the shelves were about half-stocked with water. A clerk said he had just restocked them an hour before.

    “People came in and cleared us out in the first hour after the announcement,” he said, saying he did not want to be identified because he did not want to anger his boss. “They were taking 20 or 30 bottles at a time.”

    Outside the store a man struggling to load more than 30 half-liter bottles onto his bicycle said he had bought the water for his wife, who is seven months pregnant.

    Around the corner, at an AM/PM convenience store, the bottled water section of the shelves was bare except for nine half-liter bottles of sparkling lemon-flavored water.

    With water disappearing from store shelves, the Tokyo city government acted to calm fears, saying it would begin distributing 240,000 bottles of water on Thursday to families with children younger than 1 year, the broadcaster NHK reported. There are about 80,000 such children in the affected zone, NHK said.

    Outside Tokyo the government said it had found radioactive materials at levels exceeding legal limits in 11 vegetables in Fukushima Prefecture, the Kyodo news agency reported. Shipments of the affected vegetables from there ended on Monday.

    On Wednesday Prime Minister Kan also suspended shipments of raw milk and parsley from neighboring Ibaraki Prefecture, Kyodo reported.

    The United States Food and Drug Administration said on Tuesday that it would prohibit imports of dairy goods and produce from the affected region. Hong Kong also banned food and milk imports from the area.

    Mr. Kan’s office said Wednesday that rebuilding after the 9.0-magnitude quake and tsunami, which ravaged the northeastern coast of the main Japanese island of Honshu, would cost up to $309 billion. The World Bank, citing private estimates, said on Monday that the figure could reach $235 billion.

    The economic cost of the disaster has hit the Tokyo Electric Power Company, which operates the crippled nuclear plant and is in negotiations with its bankers for loans of as much as $24 billion, according to a person with direct knowledge of the situation who asked not to be identified.

    The Associated Press reported on Wednesday that the official death toll from the disaster had been raised to more than 9,500, with more than 16,000 people missing, although officials said there could be overlap between the figures.

    Meanwhile, strong earthquakes hit the northeast coast on Wednesday. A 6.0-magnitude quake shook Fukushima Prefecture in the morning, according to the Japan Meteorological Agency. That was followed by a 5.8-magnitude tremor about 20 minutes later.

    Scientists have warned that aftershocks from the March 11 quake could continue for weeks, possibly months.

    David Jolly reported from Tokyo, and Denise Grady from New York.

    Keith Bradsher and Kevin Drew contributed reporting from Hong Kong.