Monday, January 24, 2011

Chuva na Região Serrana já matou mais que terremoto do Chile


O Globo 23/01/11

Chuva na Região Serrana já matou mais que terremoto do Chile

Pesquisador da Coppe, especialista em gerenciamento de risco, diz que destruição se assemelha à de um sismo ou de uma tsunami

Isabela Bastos


A enxurrada que arrasou cidades da Região Serrana do Rio, há uma semana, já provocou mais mortes que um dos terremotos de maior magnitude da história: o sismo de 8.8 graus na escala Richter, que atingiu o Chile em fevereiro do ano passado. Até a noite de sexta-feira, o número oficial de mortos na serra chegava a 785, duas centenas a mais que a catástrofe do Chile (521). O número de desaparecidos também surpreende. No Chile, 56 corpos não foram encontrados. Na Região Serrana, segundo o Ministério Público, existem 430 desaparecidos.

A quantidade de óbitos e o grau de devastação, sobretudo em Nova Friburgo, Teresópolis e Petrópolis, fazem com que a maior tragédia climática do Brasil seja equivalente a um terremoto, segundo especialistas e profissionais envolvidos nos resgates das vítimas das chuvas. Para o coordenador do Grupo de Análise de Risco Tecnológico e Ambiental da Coppe/UFRJ, Moacyr Duarte, que passou três dias nas cidades serranas, a enxurrada e os deslizamentos de terra formaram um cenário de terror somente comparável ao de fortes tremores de terra.

- Ele se assemelha a um terremoto de grande magnitude ou a uma tsunami. Em Friburgo, há grandes núcleos habitados soterrados e ainda não explorados pelas equipes de resgate. Em Teresópolis, houve muitos deslizamentos, mas bairros inteiros foram varridos do mapa por enxurradas, que removeram os corpos de lugar, comprometendo seriamente as buscas - analisa Duarte.

Ressalvando que não era possível classificar o desastre da Região Serrana dentro da escala Richter, uma vez que a medição dos danos de um terremoto combina intensidade e distância do epicentro, Moacyr disse que, visualmente falando, a devastação na serra lembra a registrada no Haiti, onde um terremoto de 7 graus matou mais de 200 mil pessoas em 2009.

- No Haiti, o epicentro do sismo foi em área densamente habitada, e por isso houve tantas mortes. Mas havia trechos em que ainda se viam casas de pé. Há áreas na região serrana que não se vê mais nenhuma casa. No Chile, o epicentro do tremor foi no mar. Se tivesse sido em área habitada, estaríamos contando mortos aos milhares. É preciso relativizar a comparação, mas a devastação se assemelha - complementa.

Já o pesquisador do Observatório Sismológico da Universidade de Brasília George Sand diz que a devastação causada pelos temporais no Rio pode ser comparada com a provocada por um terremoto de classificação dez na antiga Escala Mercalli Modificada (MM), que mede a intensidade dos sismos a partir dos efeitos sobre as pessoas e as estruturas construídas e naturais. De acordo com o professor, essa classificação, que varia de um a 12, ainda é usada por especialistas, mas não costuma ser divulgada para não haver confusão com a escala Richter, que mede a magnitude dos sismos usando instrumentos.



Pela escala Mercalli Modificada, o tremor de nível um não é percebido pelas pessoas. Já o de nível 12, denominado de "cataclisma", provoca a destruição total e modificação da topografia no local onde é registrado. O de nível dez é chamado de "destruidor", por provocar alterações do relevo da região afetada, com a abertura de fendas no solo e corte de canalizações; destruição da maioria das estruturas em alvenaria e pontes; sérios danos em barragens, diques e aterros; grandes desmoronamentos de terrenos; e grandes volumes de água sendo arremessados contra as margens de canais.

- Os danos provocados nas cidades serranas, como escorregamentos de terra, desmoronamento de casas, desvios de rios e quedas de pontes, nos permitem fazer a classificação visual com base nessa escala. A chuva torrencial foi o nosso terremoto - afirma Sand.

Coordenador do Hospital de Campanha da Marinha montado em Nova Friburgo, o comandante Carlos Mesquita esteve entre os oficiais destacados para trabalhar no Chile depois do tremor do ano passado. Em sua opinião, a devastação na Região Serrana foi muito maior que a registrada na periferia de Santiago, onde uma unidade provisória da Marinha foi instalada.

- Vimos um hospital chileno achatado como se tivesse sido pisado por um gigante. Mas, aqui na serra, o dano é muito superior. Em partes de Santiago, nem parecia que tinha havido um terremoto. O nível de engajamento das pessoas para ajudar também é infinitamente maior aqui - disse Mesquita.

Tuesday, January 18, 2011

Mudanças climaticas e da geomorfologia das bacias hidrográficas

A chuva foi tão intensa, o escoamento superficial tão forte e os deslizamentos tão devastadores, que o curso dos rios na região serrana também foi modificado, o que vem dificultando as buscas no Rio. (ver materia na revista Exame)

O que o poder público e os interesses imobiliários precisam entender é que não podemos simplesmente assumir que podemos construir condomínios de luxo, casas e comércio em qualquer lugar que possam causar mais risco a vida, por simples arrogância ou necessidade economica de gerar IPTU e enriquecimento de uma elite. Infelizmente, a idéia de que o poder público é capaz de controlar a natureza tem como base assumir que a natureza é previsível, estável e imutável.

Tudo na natureza está em movimento dinâmico, às vezes imprevisível e instável para poder manter as trocas de energia: quanto mais energia no sistema, mais ele precisa de eventos turbulentos, extremos e imprevisíveis para dissipar esta energia. Por exemplo: quanto mais queimamos combustíveis fósseis, desmatamos ou queimamos florestas, maior o efeito estufa que aumenta a temperatura média dos oceanos e atmosfera e eleva a taxa de evaporação. Consequentemente, mais chuvas torrenciais e tempestades, que se concentram e caem em montanhas, que gerando condições de instabilidade em encostas que antes pareciam tão estáveis e poderosas trombas d'água que destroem qualquer ideia de imutabilidade que estiver no caminho de suas águas, sedimentos, barro, pedras, ávores e casas...

Assim, vamos nos adaptar a um sistema de grande intensidade de eventos extremos, instáveis e imprevisíveis que vão mudar nossa percepção do meio ambiente que vivemos. O último incêndio do ano passado foi uma sinal destes fenômenos extremos e turbulentos na natureza.

Vamos nos preparar e pedir as autoridades do DF que olhem por nós na serrinha do paranoá, que não sejamos vítimas de situações de tragédia como a que ocorreu no Rio, nem na Rússia!


Friday, January 14, 2011

Desastres ambientais em regime de chuvas extremos: o que fazer?

Quais são os fatores por trás deste desastre terrível na Zona Serrana no Rio nesta segunda semana de janeiro de 2011, o maior desastre que já existiu no Brasil, em dimensão de perdas, desabrigados e número de mortos? Uma lista sem fim: Chuvas torrenciais, falhas de comunicação do sistema de defesa civil, desestabilização de encostas, população de várias rendas vivendo próximos aos rios, nas suas planícies de inundação, em áreas de risco geológico, e uma inexistência incabível de um plano de prevenção de desastres e de contigência para atender os atingidos, que viviam nas áreas de maior risco ambiental. Especialmente num regime de frequente eventos extremos onde o governo se equipa com caros satelites e computadores inovadores e potentes para antever quando e onde estes eventos extremos de chuva ocorrem com maior probabilidade, as cidades não tem um corpo tecnico capaz de traduzir o que estas informações significam e quanto vão custar aos cofres públicos quando ocorrem deslizamentos, enchentes e trombas dágua com tamanha força, arrastando tudo e todos em seu caminho.

Não são cidades inovadoras com certeza as que sofreram com esta fatalidade, mas sim, cidades que trazem um histórico de crescimento urbano em áreas de risco, áreas uma vez protegidas por leis ambientais, que foram esquecidas pela permissiva administração municipal pública. Todos os anos é a mesma coisa, e até quando o governo e a população irão tolerar tanto sofrimento?

Na Universidade Católica de Brasília, no curso de Arquitetura, Engenharia Civil e Engenharia Ambiental, e no Mestrado de Planejamento e Gestão Ambiental ministro a disciplina de Avaliação e Gestão de Risco Ambiental, onde os alunos aprendem esta inovadora metodologia de avaliação e gestão de risco ambiental. Mas quando estes profissionais, que ainda são poucos, saem com estas ferramentas inovadoras de gestão ambiental nas mãos para o mercado de trabalho, eles encontram uma realidade que entristece: a segurança e a redução de riscos tem pouco recurso direcionado e pouco planejamento. Poucas excessões, como em cidades localizadas no Vale do Itajai e na zona costeira em Santa Catarina, que tem hoje um dos melhores sistemas de gestão de risco ambiental, incluindo um plano de contigencia inovador, também sofrem com cortes orçamentarios e pouca participação da população.

Em estados mais pobres, como Pernambuco e Alagoas, tragédias como a que ocorreu no ano passado, deixam fortes cicratizes em suas cidades, destruídas pela desinformação, despreparo e deseducação de seu povo ribeirinho, descaso público e pela força implacável da natureza. mas quais foram as lições aprendidas?

É preciso inovar sim na governança dos riscos ambientais, um trabalho continuo, que somente se controi quando esta gestão se torna mais que participativa, inerente na cultura do povo e de seu governo. A cidade inovadora do século 21 aprende com seus erros passados, entende seus desafios no presente, e se transforma para assim melhor defender seus cidadãos e seu meio ambiente de fatalidades como estas no futuro.

Fica aqui a minha solidariedade aos atingidos na região Serrana e uma semente de esperança para que aprendamos a inovar com esta triste lição.

Renata Marson Teixeira de Andrade

Thursday, January 13, 2011

Falha de comunicação é uma das causas do maior desastre na história do Brasil desde 1967

Segundo a reportagem da Globo dia 14/01/11, o desastre poderia ter sido menor caso não tivesse falha na comunicação das informações metereologicas, realizada entre INMET e a secretaria nacional da defesa civil, e entre o SEDEC e as prefeituras, para que o plano de contigencia tivesse sido colocado em prática, com um sistema de evacuação nos 92 municípios atingidos.

http://oglobo.globo.com/rio/mat/2011/01/13/falhas-de-comunicacao-em-serie-agravaram-desastre-historico-na-regiao-serrana-do-rio-923501669.asp

äreas de riscos no DF

Quem mora nas 26 áreas de risco do DF vê as chuvas com apreensão O mau tempo multiplica problemas como inundações e desabamentos. governo não sabe quantas pessoas estão nessa situação

Mariana Laboissière

Mariana Sacramento

Publicação: 13/01/2011 08:10 Atualização:

Na Vila Rabelo II, em Sobradinho II, casas foram erguidas no alto da ribanceira (Carlos Vieira/Esp. CB/D.A Press )
Na Vila Rabelo II, em Sobradinho II, casas foram erguidas no alto da ribanceira
Em 26 pontos do Distrito Federal, famílias enfrentam o medo de não saber se a casa onde vivem ficará mais um dia de pé. Elas moram em áreas sujeitas a inundações, desabamentos e alagamentos, segundo levantamento recente da Secretaria de Defesa Civil. O órgão, entretanto, não consegue estimar a quantidade de pessoas submetidas a essas condições precárias. Assim como a Defesa Civil, a Secretaria de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda (Sedest), que faz o cadastramento dos moradores, não possui um critério-padrão de mapeamento. Todas as regiões analisadas têm pelo menos um fator em comum: a ocupação urbana sem planejamento. Para agravar o quadro, o volume de chuva que cai no DF aumenta a probabilidade de desastres, como os que ocorreram nos estados do Rio de Janeiro e de São Paulo. Só na primeira semana de janeiro de 2011, choveram 94,4 milímetros na capital do país, o triplo no mesmo período do ano passado.

Do total de áreas problemáticas, 12 são classificadas como de risco muito alto, como o Alto Bela Vista, na Fercal, e a Vila Rabelo II, em Sobradinho II. Na vila (leia matéria na página 35), o governo havia prometido retirar até dezembro passado 49 famílias. A mudança não ocorreu, entretanto.

Ontem, representantes das secretarias de Defesa Civil e de Ordem Pública e Social (Seops), além da Sedest, realizaram um sobrevoo por algumas das áreas mais comprometidas. A ideia inicial era percorrer seis localidades, mas, devido ao mau tempo, apenas três foram visitadas. Até o momento, de acordo com o secretário da Defesa Civil, Paulo Roberto Matos, a situação mais preocupante é a da Vila Rabelo II. “É uma situação impressionante. O quintal da casa é a ribanceira. Se uma criança for brincar, pode cair em um buraco. Aquilo ali não é de hoje, está lá há anos. Agora, cada vez que o Estado se mobiliza para resolver a situação, aparece mais gente querendo se beneficiar para ganhar lotes”, analisou Matos. Segundo ele, no próximo dia 24, integrantes de todos os órgãos envolvidos na questão das áreas de risco se reunirão com o governador para traçar que providências serão tomadas.

O Correio visitou alguns pontos identificados no levantamento da Defesa Civil, consolidado em dezembro. O barraco onde Gilvacir Caetano Batista, 39 anos, vive com o marido e os seis filhos, na Quadra 4 da Vila Rabelo II, fica no alto de um barranco. A dona de casa afirma nunca ter recebido uma notificação de que precisa sair da residência de três cômodos. “Mesmo assim, vivo com medo por morar no topo dessa ribanceira. Pedimos a um rapaz para fazer um muro de arrimo para impedir que a casa caia. O problema é que a chuva vai e volta”, lamenta. “Fizemos uma escada improvisada para poder subir para a casa, mas imagine se ela for levada pela chuva também. Parte do barranco já foi”, completa. Gilvacir confessa que seu sonho é conseguir um novo local para instalar a família.

A casa do aposentado Adenilson Cândido dos Santos, 45 anos, também apresenta problemas por ficar a menos de 20m de um córrego. Com receio de que, durante a cheia, a água invadisse o quintal, ele construiu um muro. “Fiz isso para me proteger. Aterrei o terreno e coloquei essa contenção, com 70cm de profundidade”, detalha o morador da Comunidade Bananal, na Fercal. A região também é considerada de risco muito alto e Adenilson sabe disso, pois já recebeu a visita de servidores da defesa Civil.

Permanência
A notificação dos moradores sobre os riscos que correm ao permanecer em terrenos comprometidos faz parte dos procedimentos adotados pela Defesa Civil. “Muitas vezes, o trabalho de contenção não é entendido pela população, que, mesmo correndo perigo, não quer deixar o local. Muitos acham que vão perder o que construíram, apesar de saber que aquela situação é irregular”, explica o gerente de Minimização de Desastres do órgão, major Alan Alexandre Araújo.

É o caso da auxiliar de cozinha Maria do Socorro da Silva, 43 anos, que mora às margens da DF-205, também na Fercal. Há 15 anos, chuva para ela é sinônimo de preocupação. Aos fundos da casa de Maria passa um rio. São apenas 15 passos até a beira do curso d’água. A paisagem é bonita, mas o perigo é iminente. “Já fui alertada, acontece que não tenho outro lugar para ficar. O jeito é continuar esperando a boa vontade do governo”, justifica.

Em Ceilândia, a situação se assemelha à de Sobradinho II. Uma grande erosão na Vila Madureira ameaça casas e deixa moradores em estado de alerta, principalmente em dias de chuva. Como se não bastasse a lama, a comunidade tem que conviver com o lixo que invade as ruas, arrastado pela enxurrada. “Algumas casas já caíram aqui. A minha, graças a Deus, está no lugar, mas temos muito medo desse buraco enorme, que aumenta a cada dia. Quanto mais cai água, pior para a população”, relata a dona de casa Sebastiana dos Santos, 59 anos.

A maioria das áreas que oferecem risco aos moradores foi ocupada de forma desordenada, de acordo com o secretário-adjunto de Defesa Civil, coronel Luiz Carlos Ribeiro da Silva. “Em comum nesses locais, está a falta de um estudo prévio de implantação das residências. As condições de habitação só podem ser verificadas com uma topografia da região e não a olho nu. A pessoa ergue a casa no período da seca e depois, quando chove, culpa o governo.”

Paralelamente à ocupação irregular, as áreas de risco sofrem com a falta de infraestrutura urbana, principalmente saneamento básico e sistema de drenagem pluvial. A precariedade habitacional resulta ainda em prejuízos ao meio ambiente, como impermeabilização do solo, poluição e assoreamento dos rios.

Autonomia
Antes vinculada à Secretaria de Segurança Pública, a Defesa Civil ganhou autonomia. Na gestão de Agnelo Queiroz (PT), a subsecretaria virou secretaria. Com a mudança, a expectativa do secretário Paulo Roberto Matos é receber mais investimentos em recursos humanos e em equipamentos e ampliar a cobertura de trabalho.

Falta de dados
Uma reunião entre os órgãos responsáveis pelas áreas de risco do DF, coordenada pela Sedest, será realizada no próximo dia 17. O objetivo do encontro é compilar os diferentes dados acumulados ao longo dos anos e definir uma metodologia padrão para identificar as famílias que vivem nas regiões comprometidas.

Em cerca de 15 a 20 dias, a pasta espera ter conseguido estimar o número de pessoas que moram nessas localidades.


Expansão sem controle

>>Mariana Laboissière
>>Mariana Sacramento

As áreas de risco no DF são reflexo de um crescimento urbano sem controle, que ganhou impulso principalmente na década de 1980. Essa é a opinião de especialistas ouvidos pelo Correio. “De uns ano para o cá, os problemas só vêm piorando. As pessoas continuam habitando lugares inadequados, muitas das quais não estão preocupadas com isso, querem apenas um lugar para morar”, avalia a professora de geografia e coordenadora do Laboratório de Climatologia Geográfica da Universidade de Brasília (UnB), Ercília Torres.

Para o diretor do curso de arquitetura e urbanismo da Universidade Católica de Brasília (UCB), professor Frederico Barboza, muitos moradores se aproveitaram do programa de doações de terrenos do governo para ocupar áreas irregulares. “Brasília é uma cidade curiosa. Fomos do crescimento à decadência sem nunca ter alcançado o apogeu, mas o novo governo já anunciou que as doações de lotes não farão parte de sua política. Isso me parece positivo”, defende.

A nova política tem como eixo financiar a construção de unidades habitacionais. Os beneficiados receberão uma casa ou um apartamento e pagarão prestações proporcionais à renda familiar, nos moldes do programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal. A novidade integra o conjunto de medidas anunciadas pelo recém-empossado secretário de Desenvolvimento Urbano, Habitação e Regularização Fundiária, Geraldo Magela.

Segundo o secretário-adjunto da pasta, Rafael Oliveira, a diretriz do governador Agnelo Queiroz (PT) é criar uma política sistêmica de legalização da cidade. “Vamos ter de agir em duas frentes: legalizar e propiciar o acesso à política habitacional, principalmente, às famílias de baixa renda, que ganham até três salários mínimos. Queremos oferecer à população moradia com qualidade e com serviços públicos disponíveis”, diz Oliveira.


Barrancos e rachaduras
Desde 2008, moradores da Vila Rabelo II aguardam a transferência para outra área. Em novembro do ano passado, o então governador do Distrito Federal, Rogério Rosso (PMDB), chegou a anunciar a mudança de 49 famílias, de um total de 189, para a região de Buritizinho, entre Sobradinho II e o Parque Canela de
Maria Luísa: fissuras enormes em todos os cômodos da casa (Rafael Ohana/CB/D.A Press )
Maria Luísa: fissuras enormes em todos os cômodos da casa
Emas. O processo ocorreria até 15 de dezembro de 2010, antes, portanto, da troca do comando no Executivo local. Até o momento, porém, as famílias continuam no mesmo lugar. Segundo o secretário de Defesa Civil, Paulo Roberto Matos, novos estudos serão realizados para verificar quem, de fato, terá direito à remoção bancada pelo Poder Público.

A diarista Rosângela Lima de Souza, 27 anos, não acredita na possibilidade de conseguir uma nova moradia. A casa onde ela vive, há sete anos, fica no alto de um barranco e ameaça as construções abaixo. “Esperamos viver em local seguro há vários anos. Parecia certo quando o governador veio aqui e disse que a mudança seria imediata. Agora, acho que deixaram isso de lado”, comenta.

A poucos metros dali, na casa da doméstica Laurenir Pereira da Silva, 46 anos, o problema é o antigo banheiro, localizado também próximo a uma ribanceira. “O piso rangia toda vez que a gente entrava para tomar banho, algumas tábuas chegaram até a cair no buraco. Foi aí que tive que improvisar outro banheiro”, explica.

As rachaduras são a grande ameaça para a dona de casa Maria Luísa de Almeida Alves, 62 anos, que vive na Quadra 2. Em todos os cômodos da residência há fissuras enormes, sem contar o lado de fora, onde parte da terra que protege os alicerces cedeu. “Não tenho condições de comprar outro pedaço de chão. As paredes estão todas ocas, as janelas empenadas”, afirma. “Já pedi para remendarem algumas rachaduras, mas quem disse que adianta?”, lamenta.

Providências
A líder comunitária da Vila Rabelo II, Sueli Santos, afirma que o processo de retirada das famílias está em andamento, mas também reclama da demora. “Acham que não queremos mudar, mas não é isso. O acordo foi de nos transferir para outro lugar em Sobradinho II. Também ganharíamos o lote. Agora, não sabemos mais.”

Segundo ela, técnicos da Companhia de Desenvolvimento Habitacional do DF (Codhab) afirmou que faltam alguns documentos comprovando o tempo de moradia das pessoas em Brasília. “Vamos juntar tudo e ver se, desta vez, sai”, diz Sueli. Para ser beneficiada, a família deve residir na capital do país há mais de cinco anos. (ML e MS)


MEMÓRIA
vulnerabilidade antiga
O diagnóstico de vulnerabilidade de residências localizadas à beira de uma ribanceira na Vila Rabelo II, em Sobradinho II, é antigo. A região consta na lista de pontos de risco do DF pelo menos desde 2005. Em novembro de 2008, a Defesa Civil apontou a necessidade de derrubada de 75 casas. Além de identificar a iminência de desabamento, o órgão condenou a estrutura das moradias, feitas sem cálculo estrutural e apresentando rachaduras. À época, os moradores foram notificados sobre os perigos que corriam em permanecer no local. Inicialmente, a informação era de que as famílias seriam transferidas para Samambaia, o que gerou descontentamento. Desde então, nos períodos de chuva, a transferência dos moradores volta a ser assunto do governo. No ano passado, a transferência esteve outra vez em pauta. Mas ninguém se mudou. Teme-se ainda que o perigo aumente à medida que mais gente se instala na localidade.


Pontos críticos
A Defesa Civil identificou 26 áreas de risco no Distrito Federal — sendo 12 com grau de comprometimento alto. O levantamento, que demorou um ano para ser consolidado, mostra as vulnerabilidades ambientais e urbanísticas dessas regiões e tem como objetivo subsidiar ações governamentais para sanar as ameaças e evitar desastres. Confira: