Petrópolis -RJ terá sistema de alerta de deslizamentos
Criar um sistema de alerta confiável que permita a desocupação de casas construídas nos terrenos de Petrópolis (RJ) mais vulneráveis a deslizamentos é um dos objetivos de um projeto a ser desenvolvido até 2005 por pesquisadores da UFRJ - Universidade Fede
17 de Dezembro de 2003. Publicado por Equipe EcoViagem
Criar um sistema de alerta confiável que permita a desocupação de casas construídas nos terrenos de Petrópolis (RJ) mais vulneráveis a deslizamentos é um dos objetivos de um projeto a ser desenvolvido até 2005 por pesquisadores da UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Com o título `Diagnóstico de Impactos Ambientais no Município de Petrópolis voltado à Previsão de Movimentos de Massa`, o trabalho envolverá uma equipe de 20 pessoas, entre pesquisadores e alunos de graduação, mestrado e doutorado, de áreas como biologia, geologia, geografia e análise de sistemas.
Os recursos foram aprovados no âmbito do programa Edital Universal, do CNPq - Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, há dois meses.
O grupo receberá R$ 71 mil para custear os estudos.Uma das metas é criar um banco de dados com informação dos movimentos de massa que ocorreram desde 1960 até 2005, quando o grupo terá que apresentar os resultados alcançados ao CNPq.
Segundo o coordenador do projeto, o geógrafo Antônio José Teixeira Guerra, a coleta de dados pretéritos será feita com base nos registros feitos pela imprensa, nos relatos de moradores mais antigos e nos registros de atendimentos realizados pela Defesa Civil.
Informações mais recentes serão aproveitadas dos estudos desenvolvidos há mais de 10 anos pelo Laboratório de Geomorfologia dos Solos, do qual Guerra é coordenador.
`Estamos trabalhando desde 91 em Petrópolis`, conta Guerra.O laboratório monitora o regime de chuva e sua relação com os deslizamentos a partir de uma estação, existente há 10 anos, no distrito de Correias. Ali, há um pluviômetro que mede o total da chuva diária.
As informações meteorológicas são coletadas manualmente todos os dias e o pessoal do laboratório reúne os dados na Estação Experimental, que fica na Fazenda Marambaia.
Outras duas estações foram incorporadas ao sistema de controle do laboratório, uma há cinco anos, no bairro Capela, que fica no centro da cidade e outra, há dois anos, no Rio Itamarati.
Com os recursos advindos do Universal, o grupo pretende construir mais uma estação, só que automática. A vantagem, além de dispensar o controle manual diário, é que os dados de volume de chuva serão registrados minuto a minuto.
Essa precisão será fundamental, de acordo com Guerra, para gerar um modelo de prognóstico de movimentos de massa, o que em outras palavras, se traduzirá num sistema de alerta aos moradores quando houver previsão de volume intenso de chuva num período muito curto.
A conjunção desses dois fatores leva ao agravamento dos deslizes de terra, como ocorreu na véspera do Natal de 2001, quando se registrou um dos mais graves acidentes do gênero em Petróplis. Na ocasião, 50 pessoas morreram e 17 delas eram de uma mesma família, cuja casa estava construída no bairro Quitandinha, numa área de declividade de quase 65°, segundo Guerra.
A chuva começou no final da tarde do dia 23 e durou até às 6h00 do dia seguinte. Várias casas foram soterradas. A Defesa Civil atendeu, depois dos deslocamentos de terra, mais de mil ocorrências, sendo 100 delas bastante graves. Os pluviômetros da equipe da UFRJ registraram, neste dia, volume de 200 mm de chuva, o que corresponde a 20 centímetros de altura de água distribuída por todo município.
`Depois disso, não houve temporal tão forte. Mas, se hoje chover num volume como o de 2001, num período curto de 12 horas, exatamente como aconteceu, então certamente haverá mais mortes`, afirma Guerra.
O prognóstico do pesquisador baseia-se na ocupação desordenada e irregular que se faz das encostas e que, além disso, aumenta a cada ano.Topografia acidentada torna a cidade vulnerável no período chuvosoPetrópolis tem cerca de 300 mil habitantes e muitos vivem em encostas muito íngremes.
Segundo Guerra, a maioria das ocorrências de soterramento atendidas pela Defesa Civil em 2001 eram de casas erguidas em áreas com declividade superior a 45°. A legislação ambiental brasileira proíbe a construção de qualquer edificação em encostas com declividade superior a aquela. É como ter um imóvel instalado na rampa de um escorregador de parque, cuja inclinação não passa dos 40°.
`A maioria dos escorregadores tem de 30° a 35° de declividade`, conta o pesquisador. O também geógrafo Antônio Soares da Silva, da UFRJ, que estuda a topografia da região desde 1994 e faz parte do projeto da universidade, concorda com a previsão de Guerra.
`Petrópolis tem uma vulnerabilidade natural, onde é inevitável o deslizamento, devido a uma conjunção de fatores: a formação permanente de nuvens no topo da serra, que faz com que o solo esteja saturado de umidade antes da chuva, um substrato rochoso muito próximo à superfície e a declividade.
Se conjugarmos a isso uma maior quantidade de pessoas habitando esses locais, certamente aumenta a freqüência do acidente e diminui o intervalo de ocorrência desses acidentes. Isso resulta, certamente, em mais perdas humanas`, analisa.
Com o conhecimento acumulado e os dados que ainda serão coletados no âmbito do novo projeto, os pesquisadores querem atuar em conjunto com o Poder Público local na criação de um sistema de alerta.
Seria algo semelhante ao que se faz hoje no Rio, onde em algumas favelas o alerta é feito com horas seguras de antecedência, quando a previsão é de chuva muito intensa em locais considerados muito vulneráveis.
`A idéia é avisar as pessoas com antecedência para que elas saiam de suas casas, preservando a própria vida. O ideal seria que não fosse permitido morar em alguns lugares de Petrópolis`, acrescenta Antônio Soares, especializado na medição da contaminação de encostas com metais pesados.
Na visão de Antônio Guerra, o Poder Público, aliás, tem sua parcela de culpa na extensão dos efeitos da chuva na cidade serrana. `Ou por falta de fiscalização ou mesmo por ter autorizado obras em lugares tão vulneráveis`, observa.
O grupo traçará, por meio de um modelo matemático, um mapa das áreas de risco de Petrópolis e classificá-las de acordo com o grau de vulnerabilidade a deslizamentos. A metodologia de modelagem matemática será desenvolvida no Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), sediado em Petrópolis.
A pesquisadora Laura Borma, do LNCC, é a vice-coordenadora do projeto da UFRJ. Os pesquisadores querem colaborar com a prefeitura indicando áreas que podem ser ocupadas com obras de recuperação, contenção de encostas e drenagem de esgoto.
`É possível, inclusive, usar medidas de engenharia que não sejam pesadas visualmente, nem caras, como o simples plantio de algumas espécies de árvore, ou terraceamento, cobertura com palha`, cita Guerra.
Segundo Antônio Soares, a maioria das áreas menos suscetíveis estão em área de preservação ambiental e, como a área central do município está encravada em encostas mais íngremes, está também em curso outro projeto, este em parceria com o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
O objetivo é dar o devido ordenamento à ocupação do solo, indicando que áreas podem ser ocupadas.
`Como a maioria dessas áreas está em área de preservação ambiental, temos que fazer um estudo minucioso antes`, conta Soares.
Ainda em fase de captação de recursos, por parte do Ibama, o projeto tem o objetivo de, inclusive, impedir que os moradores ocupem determinados locais. É possível que o grupo da UFRJ dê seqüência a outro sub-projeto, esse em parceria com o Ministério Público do Rio, que quer um mapa de risco da região.
Guerra vê com bons olhos a articulação com o MP, porque acredita que a população será beneficiada. É dessa instância de onde partem os processos contra casos de omissão e culpa do poder público. Bacias hidrográficas
Além de gerar um modelo de prognóstico de deslizamentos, o que os pesquisadores chamam de movimentos de massa, o projeto da UFRJ irá mais além.
Outro objetivo é associar dados do meio físico e de uso do solo e, a partir daí, elaborar um plano de manejo das bacias hidrográficas de Petrópolis.
A bacia do Piabanha, a principal da região, foi escolhida como piloto para elaborar uma metodologia de análise de qualidade ambiental que, posteriormente, poderia ser ampliada para outras bacias de afluentes do Paraíba do Sul.
`Queremos avaliar o quanto os processo erosivos, a redução na cobertura florestal e os movimentos de massa afetam a bacia, seja do ponto de vista da qualidade da água, ou na própria perda de biodiversidade`, explica Antônio Soares.
De acordo com ele, o projeto não se restringirá a estudos sobre a suscetibilidade a deslizamentos e será uma amplo estudo de qualidade ambiental em toda a região e também na Apa - Área de Preservação Ambiental, de Petrópolis.
Os pesquisadores farão análises da qualidade da água do Piabanha, investigando, inclusive, a presença de elementos contaminantes e investigarão também se houve redução na oferta de água, fenômeno natural com o assoreamento.
O rio, desconfiam os especialistas, certamente está com a margem menor, assoreado, em função da quantidade de detritos que recebe a cada enxurrada da chuva. Numa área urbana e ocupada como a de Petrópolis, o material que o rio recolhe tem em sua composição, além de sedimentos (terra), lixo e entulho.
Serra do MarPetrópolis e Teresópolis são as duas cidades mais vulneráveis a se ressentir dos efeitos das chuvas concentradas que ocorrem na Serra do Mar. Isso porque é também onde a serra é mais densamente ocupada.
Municípios, também encravados em meio à Serra do Mar, como Caraguatatuba e Ubatuba, em São Paulo, e Mangaratiba, no Rio de Janeiro, são menos suscetíveis porque há áreas planas que os protegem.
Além disso, as encostas ainda preservam a vegetação, o que praticamente não acontece em Petrópolis.A cidade serrana escolhida por D. Pedro I como refúgio para o descanso foi erigida na própria encosta, o que a torna altamente vulnerável a deslizamentos.
As chuvas, além de intensas, são concentradas. Além disso, a declividade é alta nas encostas, chegando a ser de 40%, o que representa uma inclinação entre 20° e 23º. Outro agravante são as características físicas do solo, cujo estrato rochoso está a apenas 1,5 metro de profundidade.
O problema é que as áreas mais suscetíveis a deslizamentos são as mais densamente ocupadas e o desastre natural toma proporções ainda maiores porque, invariavelmente, atinge muitas pessoas, tendo como conseqüência perdas humanas e econômicas.
O geógrafo Antônio Soares relata que há estudos acadêmicos mostrando outros deslizamentos, com grandes movimentos de massa, que ocorreram na Serra do Mar em época de chuva, mas não repercutiram porque se deram em áreas não habitadas e atingiram apenas o meio físico.
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